Quilombo Mimbó, no Piauí, sedia pela primeira vez na história evento do censo demográfico

O censo do IBGE será feito em todos os territórios quilombolas, dando visibilidade a este povo que era esquecido nas políticas públicas

Por Portal O Piauí em 18/08/2022 às 06:41:56
Evento do IBGE no Quilombo Mimbó na quarta-feira, 17, marcou o início do censo nos territórios quilombolas do Piauí.Fotos: Instagram Quilombo Mimbó

Evento do IBGE no Quilombo Mimbó na quarta-feira, 17, marcou o início do censo nos territórios quilombolas do Piauí.Fotos: Instagram Quilombo Mimbó

Em mais de 200 anos de existência, pela primeira vez o quilombo Mimbó, em Amarante, no Piauí, foi escolhido para sediar nesta quarta-feira, dia 17, o evento que marca o início da coleta de dados do Censo Demográfico 2022 entre os quilombos do Piauí, que pela primeira vez fará perguntas mais específicas em comunidades quilombolas e para quilombolas residentes fora de sua localidade de origem.

Esta iniciativa é um conquista dos povos e das instituições representativas destas comunidades que há anos vêm lutando para que o povo negro dos quilombos seja incluído na pesquisa demográfica. Com isso, não ficaram por anos e anos excluídos das políticas públicas. Veja que no Piauí, o Quilombo Mimbó, com mais de 200 anos de existência, só veio a receber políticas públicas por causa da sensibilidade do governo do Estado.

Não foi revelado o motivo, mas pela primeira vez, um censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai contabilizar a população quilombola do Brasil. A iniciativa já vinha sendo trabalhada há algum tempo pelos pesquisadores.

Idelzuita da Paixão, descendente de um dos primeiros casais fundadores do Quilombo Mimbó, falou no evento do IBGE sobre a importância do povo negro ser ouvido e incluído nas polícias públicas.


Ao todo, serão 5.972 localidades quilombolas, que começaram a ser visitadas pelos recenseadores a partir desta quarta-feira (17), dia de mobilização do censo quilombola. O Quilombo Mimbó foi referência para o início dos trabalhos que serão realizados de forma detalhada em todas as comunidades quilombolas do Piauí.

No Piauí, a estimativa é de existem 266 comunidades quilombolas. Destas, 84 já reconhecidas pela FCP, enquanto 61 estão em processo de titulação junto ao Incra do Piauí. Um total de 5 ainda não foram tituladas. O Estado tem cinco territórios titulados em parceria com o Instituto de Terras do Piauí que são os territórios Olho D'água dos Pires, em Esperantina; Sítio Velho, em Assunção do Piauí; Volta do Campo Grande, em Campinas do Piauí; Fazenda Nova e o território Morrinhos, ambos no município de Isaías Coelho.

É importante destacar que, pela primeira vez, em 86 anos desde quando o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – (IBGE) foi criado, as comunidades quilombolas serão identificadas, e assim, os povos quilombolas que residem fora de suas localidades também serão identificados como sendo quilombolas.

Assim como em outras partes do país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, é fato que essas regiões possuem um grande número de emigrantes, pessoas que saem de suas localidades em busca de melhores condições de vida, contudo, no Quilombo Mimbó e em outras comunidades tradicionais, a realidade é a mesma, existem muitos quilombolas morando nos grandes centros urbanos, e que ainda sim, merecem e devem serem identificados no momento em que o recenseador estiver passando para a entrevista do Censo Demográfico de 2022.

"O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – (IBGE) não decidiu, a partir deste censo, identificar as comunidades quilombolas e suas características, mas que, essa conquista é do povo preto quilombola, oriunda de lutas promovidas pela organização quilombola, fato esse que reforça que: Tudo para os povos de comunidades tradicionais é conseguido através de muita luta", afirma post na página do Quilombo Mimbó em rede social.



Por mais simples que pareça essa conquista, e que ainda não contará todas as situações enfrentadas por essas comunidades, ainda sim é um momento para que toda sociedade civil se sensibilize com a luta quilombola, uma luta cansativa e difícil, e que esses primeiros dados que serão apresentados após o censo concluído, possam chamar a atenção também de quem governa para que possa usá-los para desenvolver políticas públicas efetivas.

Moradora da comunidade quilombola Tapuio, em Queimada Nova, Piauí, Rosalina Santos, que coordenou as comunidades quilombolas no Governo do Estado, disse que a realização do censo nos territórios quilombolas é uma conquista muita importante do povo negro e das instituições representativas. Segundo ela, pela primeira vez na história do Brasil, as negras e negros dos quilombos vão ser ouvidos e passarão a ser visíveis diante de todos gestores nos municípios e país que têm poder de decisão.

"Por isso, a importância desse censo para nós quilombolas. A importância dessa ação para acesso as politicas públicas é fundamental. Os gestores e as gestoras passarão a nos verem, saber quem somos e onde estamos, e quanto somos, para não terem mais a desculpa do tipo: "ah, não sabia nem que tinha quilombolas no município". Vamos responder certinho todas as perguntas e mostrar que o Piauí também é quilombola", falou Rosalina.

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