Na primeira viagem feita, nesta semana, ao Egito para participar da COP27, da ONU, como presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva fez, em três dias, o que o governo Bolsonaro não conseguiu fazer em quatro anos. Articulador nato e admirado por chefes de Estado, Lula colocou o Brasil de volta ao mundo, estabelecendo relações importantes com as maiores potências econômicas mundiais. Foi aplaudido, ouvido e cortejado por onde passava.
No Egito, Lula se reunir com John Kerry, dos EUA, e Xie Zhenhua, da China, que representam seus países, as duas maiores economias do mundo. Esteve com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, com os presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e de Moçambique, Filipe Nyusi. Com a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. Com o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide. E com Teresa Ribera, ministra para a Transição Ecológica da Espanha, que também participa da COP27.
Lula com o representante da China na COP27; uma conversa que não podia faltar, tendo em vista que os chineses têm grandes negócios com empresas brasileiras. Está claro que o Brasil, para crescer, gerar empregos e riquezas, precisa atrair investimentos de vários países; além do mais precisa levar o potencial brasileiro para o mundo. (Fotos: reprodução de rede social @lulaoficial)
Com a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, e com o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, Lula tratou sobre o fundo internacional para a Amazônia que teve a liberação suspensa pelo fato do governo Bolsonaro não ter cumprido aspectos importantes do acordo firmado sobre preservação e combate ao desmatamento ilegal.
O presidente eleito sinalizou que vai cumprir o que foi acordado e quer agilizar a liberação de mais de R$ 2 bilhões do fundo que estão congelados. Também anunciou que vai criar o Ministério dos Povos Indígenas para ampliar ainda mais as políticas de combate ao desmatamento da Amazônia e ampliar as ações favoráveis ao clima.
Lula e o secretário-geral da ONU, instituição que lidera a organização da COP27
Lula com a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock
Lula com o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide
Lula com Teresa Ribera, ministra para a Transição Ecológica da Espanha
A agenda de Lula em Portugal foi uma das mais extensas. Nesta sexta-feira, 18, ele se encontrou, em Lisboa, com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o primeiro-ministro do país, António Costa. Depois do encontro privado, Lula e Costa falaram à imprensa.
Lula assegurou que seu governo retomará o diálogo com todos os países. "Fazia quatro anos que o Brasil estava totalmente isolado no mundo. Nenhum país que sofreu bloqueio nesses últimos 30 anos teve o isolamento que o Brasil teve por culpa do próprio governo brasileiro. Não foi o mundo que isolou o Brasil, foi o Brasil que se isolou", afirmou.
Em Portugal, neste sábado, 19, Lula teve encontro com a Comunidade Brasileira e Instituto Universitário de Lisboa, onde falou sobre a situação difícil de grande parcela do povo brasileiro que perdeu importantes políticas públicas no Governo Bolsonaro e voltou a figurar no mapa da fome. Foi muito aplaudido. Teve um momento em que a plateia pediu para ele falar sobre o churrasquinho que os brasileiros vão voltar a comer com uma cervejinha gelada, uma fala feita durante a campanha que viralizou em todo o mundo e virou som popular de redes sociais, como Instagram e TikTok.
Lula com o primeiro-ministro de Portugal António Costa, o qual junto com sua esposa fez recepção para o presidente eleito do Brasil
Lula com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o presidente de Moçambique, Filipe Nyusi
Na COP27, Lula também pediu mudanças na governança global, incluindo uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, para torná-lo mais representativo, na visão do presidente eleito.
"Eu tenho defendido que precisamos de uma governança global mais representativa. Sobretudo na questão climática, a gente não pode tomar uma decisão e depois levá-la para que o Estado nacional decida se vai cumpri-la ou não cumpri-la. Temos exemplo do Protocolo de Kyoto, que foi assinado há tempo tempo atrás, até hoje não foi cumprido por muitos países.
A ONU de hoje não pode continuar sendo a ONU de 1948. O mundo mudou, a geopolítica mudou, as pessoas mudaram, a cultura mudou e, portanto, o Conselho de Segurança da ONU precisa mudar. Precisa ter mais gente representando todos os continentes e acabar com a ideia de que os países possam ter direito de veto", enfatizou.
Sobre os compromissos ambientais do novo governo, Lula destacou o combate ao garimpo ilegal e às invasões ilegais de reservas, com preservação das terras indígenas e unidades de conservação. "Vamos cuidar da questão climática, cuidar da Amazônia como patrimônio da humanidade", garantiu, mencionando da sugestão para que o Brasil realize a COP30, em 2025, na Região Amazônica.
Questionado por jornalistas sobre as contas públicas do novo governo, após oscilações no mercado financeiro por conta de medidas anunciadas pela equipe de transição - como a proposta para excluir o Bolsa Família da regra do teto de gastos - Lula enumerou feitos de seus dois mandatos anteriores (2003-2010) e disse que tem compromisso com os brasileiros, especialmente os mais pobres.
"Ao terminar o meu governo, a inflação estava 4,5%, a nossa dívida tinha caído de 60,5% para 37,7%, o Brasil tinha pago sua dívida com o FMI [o Fundo Monetário Internacional] e emprestado US$ 15 bilhões para o FMI. E o Brasil tinha feito uma reserva de US$ 370 bilhões, que é o que sustenta o Brasil até hoje. Ninguém tem autoridade pra falar em política fiscal comigo, porque durante todo o meu período de governo, eu fui único país do G20 que fiz superávit primário", sentenciou.
"Vou cuidar desse povo como ninguém jamais cuidou, vou voltar a fazer ele sorrir, aumentar salário mínimo todo ano e gerar emprego nesse país. Vamos voltar a ser responsáveis do ponto de vista fiscal sem precisar atender tudo o que o sistema financeiro quer. Eu fui eleito para cuidar de 215 milhões de brasileiros, sobretudo das pessoas mais necessitadas", acrescentou.
Após o giro internacional, o presidente eleito deve retomar a agenda da transição de governo na semana que vem, no Brasil, quando começa a analisar nomes para compor sua equipe ministerial.
Com informações da Agência Brasil