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Bordado que retrata a revoada dos Guarás do Delta é exposto em São Paulo, no Museu A Casa

A peça exposta em São Paulo foi produzida por Norma Sueli que concedeu entrevista ao Projeto Feito Por Mim do Portalopiauí.com

Por Djalma Batista, editor e repórter do portal em 22/01/2022 às 14:42:17
Revoada dos Guarás, bordados exposto a partir de hoje no Museu A Casa, em São Paulo

Revoada dos Guarás, bordados exposto a partir de hoje no Museu A Casa, em São Paulo

O Museu A Casa, instituição que valoriza e promove produções artesanais e o design brasileira no bairro de Pinheiros, em São Paulo, incluiu este ano em sua exposição, que estreou neste sábado, dia 22, bordado produzido pela artesã Norma Sueli, da comunidade Pedra do Sal, no litoral do Piauí. A peça exposta retrata a revoada dos Guarás, uma ave exótica que dá um colorido especial às árvores e ao ambiente do Delta do Parnaíba.

O bordado feito na Pedra do Sal tem uma causa, que é a defesa da preservação da biodiversidade e do potencial turístico local. Antes, o ofício era um passatempo das mulheres na frente das casas, mas, com o passar dos anos, viram a atividade como fonte de renda para ajudar os maridos que só viviam da pesca, do extrativismo do caju e do murici.

Além disso, a exposição tem o bordado feito pelas artesãs da associação Art-Ilha, em Ilha do Ferro, Alagoas. A técnica do boa-noite é exclusiva do local e ganhou novos temas com as oficinas organizadas pelo A Casa e pela estilista Paula Ferber no povoado pertencente ao município de Pão de Açúcar.

O Museu A Casa fica na Avenida Pedroso de Morais, 1216/1234, Pinheiros, São Paulo. A seleção de peças expostas este ano foram feita pela jornalista Zizi Carderari e pelo designer de interiores Julio Rosa pode ser vista na exposição "Um olhar sobre o acervo: rendas e bordados", que estreia em nossa sede no sábado, 22 de janeiro de 2022.


Este é o bordado que faz parte da exposição em São Paulo



VEJA A ENTREVISTA COM A NORMA SUELI

Nos passeios pelo Delta do Parnaíba, no litoral do Piauí, não tem quem não se apaixone, de cara, pela revoada dos Guarás com aquele céu azul no fundo. É uma cena única e boa lembrança na mente para a vida inteira.

Tudo ao redor é encantador: os barcos, as dunas, cajus, carnaubeiras, barcos, peixes e os crustáceos. É uma biodiversidade que atrai, cada vez mais, a atenção de turistas do mundo inteiro.

Inspiradas neste universo de muita beleza, um grupo de 15 mulheres da localidade Pedra do Sal, em Parnaíba, litoral do Piauí, iniciaram a produção de "bordados da vovó" que valorizam a biodiversidade do lugar.

Com tanta demanda pelas peças, capacitam quatro jovens para que possam aumentar a produção. Elas abriram uma empresa MEI e trabalham por meio de parceria coordenada por Norma Sueli Nascimento de Sousa, bordadeira e líder das empreendedoras.

Nesta entrevista ao projeto Feito Por Mim, do portalopiaui.com, Norma deu mais detalhes sobre o trabalho do grupo. Confira.



Norma Sueli foi homenageada na ponte sobre o rio Igaraçu

Quais tipos de bordados você faz?

Trabalhamos com bordados a mão, o chamado "bordado da vovó", que utilizamos vários tipos de pontos: cheio, corrente, dentre outros. Bordamos retratando a biodiversidade e as potencialidades ecológicas e turísticas de Parnaíba e região.

Fotos cedidas pelas bordadeiras da Pedra do Sal

Além do Guará, Cavalo-marinho e dos barcos, quais os outros elementos da biodiversidade vocês retratam nos bordados?

Nós bordamos as tartarugas, fazendo uma alusão à importância da preservação delas, bordamos cajus e muricis no sentido de enfatizar o não desmatamento de cajueiros para a implantação de usinas eólicas. Além disso, bordamos nas nossas peças carnaúbas, dunas, a revoada dos Guarás, a pesca do Camurupim, as dunas do Morro Branco, dentre outros.


Quando você teve a ideia de levar a biodiversidade do litoral piauiense para o bordado?

Aprendemos a bordar com nossa mãe, que aprendeu a bordar com nossa avó. Foi um ensinamento passado de geração para geração. Entretanto, fazíamos bordado apenas para uso pessoal, no intuito de decorar nossa casa. Aí o tempo foi passando, começamos a perceber que as mulheres, além de ficarem ociosas, queriam uma renda extra para ajudar seus maridos, já que eles só viviam da pesca, do extrativismo do caju e do murici.

Muitas delas trabalhavam como domésticas, mas não deixavam de lado o hábito de bordar na porta de casa à tarde. Em 2008, nos reunimos e começamos a produzir os bordados para geração de renda na comunidade. No início, a comercialização era muito fraca, pois fazíamos apenas flores. Não havia diversidade de estampas.

Fomos buscar entender o porquê da baixa rentabilidade dos nossos produtos e, a partir daí, realizamos estudos para idealizar e colocar em prática maneiras de alavancar as vendas. Para isso, buscamos apoio do Sebrae, no intuito de mudar a qualidade do bordado.


Começamos com as assessorias de design, catalogando as potencialidades da região, e nos auxiliando a produzir as peças diferenciadas. De início, bordamos as tartarugas, já que quando falávamos da importância de preservá-las, o cliente se sensibilizava e comprava uma peça.

Com o sucesso, buscamos explorar a fauna e a flora da região, o homem pescando o Camurupim. Até que surgiu a ideia de produzir peças com Guarás. Muitos falavam da revoada dos Guarás. Pedi para minha filha, então estudante de psicologia, pesquisar sobre a ave.

Fizemos uma peça experimental e, atualmente, é o nosso 'carro-chefe'. Graças aos Guarás, as bordadeiras da comunidade puderam voar mais alto. Vendemos para diversos locais do Brasil e do mundo, como a Itália. Além disso, nossas peças já foram expostas para o público internacional, e nacional no museu A Casa Bordada, de São Paulo, com quem temos convênio.


Como é feita a venda das peças?

A comercialização é realizada por meio do Instagram, com envio pelos Correios para todo o Brasil; em feiras, que não estão sendo muito realizadas devido à pandemia, temos convênios com algumas lojas e pousadas de Parnaíba, e possuímos um espaço físico aqui na Pedra do Sal. Além disso, o museu A Casa Bordada também vende nossos produtos.


Você tem pretensão de despertar a importância da consciência ambiental com o seu trabalho?

Sim, com certeza. Em todas as peças. Por exemplo, ao mostrar para os clientes o bordado com a linha do mar e as tartarugas, a gente fala da história delas e da importância de preservá-las. Temos o intuito de ajudar, de alguma forma, na preservação da nossa casa, do lugar onde vivemos, para que as futuras gerações desfrutem isso. Esta é a mensagem do bordado, de resistência, e mostrando nosso potencial, nosso modo de viver.


As bordadeiras da Pedra do Sal possuem algum incentivo do poder público?

Não. Tudo é bancado por nós mesmos. Desde o material, até a ida a feiras e exposições. Somente o Sebrae nos apoia, mas apenas na parte de capacitação e montagem de stands em feiras.

Como é a idealização das estampas? É realizado um estudo antes?

Temos ainda um pouco de dificuldade na parte gráfica, pois não temos uma aparelhagem completa, e às vezes precisamos fazer uma arte bem trabalhada para algumas peças, mas conseguimos tirar de letra. Entretanto, grande parte dessas peças é feita de forma manual. Cada mulher tem uma função. Eu, por exemplo, fico responsável por fazer todas as artes, a da "almofada céu", "almofada dunas", "piseira", que conta a história do Delta do Parnaíba, dentre outras.


Como está o ritmo de venda das peças?

No começo da pandemia, as vendas caíram um pouco, mas graças a Deus retomaram com força. Temos muitas encomendas para pousadas de Barra Grande, para fora; e os nossos produtos possuem ótima aceitação. As peças com os Guarás e mandalas são as líderes de vendas.

Sobre o volume de produção. As bordadeiras produzem quantas peças por mês?

Depende da complexidade do bordado. Por exemplo, a "almofada dunas", por ser mais complicada, produzimos apenas cinco peças mensais. Já a "almofada céu", produzimos, de 10 a 15, por mês; isso também, dependendo da demanda dos demais produtos. Fazemos cerca de 25 unidades da "almofada na linha do mar" em um mês. Quanto às piseiras, a gente produz cinco por mês, já que são peças grandes.


Evidente que isso pode variar com o tempo, mas fale um pouco sobre os preços dos produtos.

As 'piseiras' variam entre R$ 850 e R$ 1.200. A colcha de cama completa sai por R$ 2.500. O preço das almofadas varia de acordo com o tamanho: 40cm ?- 40cm sai por R$ 75; 50cm ?- 50cm custa R$ 85, e a de 60cm ?- 60cm, R$ 105. O jogo americano para mesa de jantar, com sousplat (suporte de prato) e guardanapos, custa R$ 380. Panos de prato saem por R$ 40 por unidade. Guardanapos individuais, R$ 25. Já os vestidos, a variação de preço é de R$180 a R$ 320, de acordo com o tamanho da pessoa, e se o bordado é mais simples ou mais cheio.

Quem coordena o grupo de bordadeiras?

Eu mesma coordeno-o, que é majoritariamente feminino. Só tem um homem que trabalha conosco.

(Autor: Djalma Batista)


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