Tribunal simbólico no Pará é nova denúncia de povos da Amazônia contra Cargill

A Cargill e outras multinacionais exportadoras de grãos foram “condenadas” em julgamento simbólico realizado em Santarém (PA) por povos indígenas, ribeirinhos e agricultores familiares nesta segunda-feira (4).

Por Portal O Piauí em 05/03/2024 às 10:10:23
Foto: Reprodução internet

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“Isso aqui não é alimento. Isso aqui é veneno. Isso aqui destrói as nossas vidas. Mas vamos defender o nosso território. Fora Cargill trilho da destruição, Ferrogrão, não”, disse Alessandra Korap Munduruku, enquanto segurava grãos de soja.

Cargill já foi citada em outras violações


Em outubro de 2023, a Repórter Brasil mostrou que obras de infraestrutura da multinacional têm um impacto significativo na organização da sociedade em seu entorno. É o caso do porto de embarque e desembarque de grãos mantido pela empresa no município de Itaituba (PA), o mesmo que será beneficiado com a Ferrogrão. A estrutura do porto o possui capacidade de embarque de 24 mil toneladas por dia, o equivalente a oito barcaças.

Com o porto, de uma pequena vila, a região foi transformada em zona comercial, industrial e portuária, com fluxo intenso de caminhões que abastecem o terminal graneleiro. Segundo relatos ouvidos pela reportagem, um dos principais impactos é o aumento da violência sexual e da prostituição na comunidade


Na época, a Cargill afirmou que "lamenta saber que haja essa tentativa de conexão entre a presença da empresa em Miritituba e temas tão sérios como abuso e exploração de crianças e adolescentes ou violação dos direitos de comunidades tradicionais. A íntegra da manifestação da empresa pode ser lida aqui.

A Cargill também já foi condenada por episódios envolvendo trabalho escravo e violações trabalhistas entre seus fornecedores. Em setembro de 2023 a 39ª Vara do Trabalho de Salvador (BA) condenou a companhia por práticas de trabalho escravo e infantil em plantações de cacau de seus fornecedores no Brasil. A Justiça determinou que a Cargill pague uma indenização de R$ 600 mil por danos morais coletivos, a serem aplicados em projetos de proteção a crianças. Ainda cabe recurso.

Em nota enviada à Repórter Brasil no momento da publicação da reportagem sobre trabalho escravo no cacau, a compania afirmou que "não tolera tráfico humano, trabalho forçado ou infantil em suas operações ou cadeia de suprimentos". A multinacional também argumentou que aplica "medidas imediatas" para suspender fornecedores flagrados em violações. Leia aqui a íntegra da nota enviada pela Cargill.

Outra reportagem de abril de 2023 revelou que a empresa comprou soja de uma família cujas fazendas Santa Ana, em Cláudia (MT), possuem área embargada por queimada e desmatamento irregular. As negociações ocorreram entre 2019 e 2022. Questionada na época, a Cargill afirmou que "essas negociações ocorreram no período em que o referido produtor não fazia parte de nenhuma lista restritiva e, após análise, contatou-se que cumpria todos os critérios para comercialização" com a companhia. A íntegra da manifestação pode ser lida aqui.

"A empresa não investe os recursos adequados tanto nas equipes que precisam monitorar as fazendas, quanto na profundidade das investigações necessárias para deixar de fora de sua cadeia de suprimentos o desmatamento na Amazônia e no Cerrado", comenta a João Gonçalves, diretor sênior no Brasil da ONG Mighty Earth, que realiza ações para pressionar os Cargill-MacMillan, família controladora da Cargill, para que cumpra seus compromissos socioambientais.

No Brasil, a Cargill é signatária de acordos setoriais com foco em meio ambiente e direitos humanos. Além da Moratória da Soja, que veda a compra de grãos de áreas desmatadas na Amazônia, e do Pacto Global para Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, a empresa fez barulho no fim do ano passado ao anunciar que adiantou seu compromisso de acabar com o desmatamento em sua cadeia de produção de 2030 para 2025.


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