Hacker depõe na CPI e diz que Bolsonaro prometeu indulto para grampear Alexandre de Moraes

O hacker disse também que foi procurado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) com a promessa de um emprego.

Por Portal O Piauí em 17/08/2023 às 14:37:16
O hacker Walter Delgatti Netto fez declarações na CPI no Congresso que incrimina o ex-presidente Bolsonaro.Foto: Lula Marques

O hacker Walter Delgatti Netto fez declarações na CPI no Congresso que incrimina o ex-presidente Bolsonaro.Foto: Lula Marques

Com promessa de indulto, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria pedido ao hacker Walter Delgatti Netto para assumir um suposto grampo contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Segundo Delgatti, o pedido foi feito durante uma conversa por telefone com Bolsonaro, que o teria informado que agentes "de outro país" teriam conseguido grampear o ministro e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A informação foi divulgada pelo hacker nesta quinta-feira (17) em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas de 8 de janeiro. O indulto significa o perdão da pena, efetivado mediante decreto presidencial.

Delgatti afirmou que não teve acesso ao grampo, mas que aceitou o pedido de Bolsonaro de assumir a responsabilidade pelo suposto equipamento usado para monitorar Moraes. "Ele disse que, em troca, eu teria o prometido indulto e ainda disse assim: caso alguém me prenda, eu [Bolsonaro] mando prender o juiz e deu risada", revelou o hacker preso por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de outros tribunais.

O objetivo do ato, segundo Delgatti, era provocar alguma ação contra o ministro Alexandre de Moraes e forçar a realização de nova eleição com o chamado voto impresso, modalidade que foi negada pelo Congresso Nacional em 2021.

O hacker disse que foi procurado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) com a promessa de um emprego. A parlamentar nega as acusações de ilegalidades, mas afirma que aguarda acesso aos autos para se manifestar sobre todas as informações divulgadas.

Em nota divulgada na tarde de hoje, o advogado Daniel Bialski, que defende Zambelli, "refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar, inclusive, negando as aleivosias e teratologias mencionadas pelo senhor Walter Delgatti".

Pela rede social X (antigo Twitter), Fábio Wajngarten, que foi chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro, afirma que "nunca houve grampo, nem qualquer atividade ilegal ou não republicana contra qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do presidente".

*Matéria ampliada às 12h32 e às 13h26 para inclusão de informações

Edição: Graça Adjuto

Delgatti está preso desde o dia 2

O chamado Hacker da Vaza Jato, Walter Delgatti, afirma ter se reunido com servidores do Ministério da Defesa pouco antes das eleições de 2022. A informação foi confirmada à Agência Brasil, nesta quarta-feira (16), pelo advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira.

Ao chegar à sede da Polícia Federal (PF), em Brasília (DF), para acompanhar o depoimento de seu cliente, Moreira disse saber com quem Delgatti esteve reunido no ministério, mas não revelou nomes, datas, nem outros detalhes.

Há duas semanas, quando Delgatti foi preso preventivamente, suspeito de invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserir falsos documentos e alvarás de soltura no Banco Nacional de Mandados de Prisão, Moreira revelou à GloboNews que o hacker esteve no Ministério da Defesa debatendo a segurança das urnas eletrônicas nas eleições de 2022.

Hoje, ao UOL Entrevista, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, confirmou que Delgatti esteve no ministério. Monteiro revelou que pediu à PF que apure com quem o hacker se reuniu. De acordo com o ministro, tão logo sejam identificados, os servidores da pasta serão temporariamente afastados de sua função até que o teor das conversas seja apurado.

"Eu quero os nomes das pessoas com quem o hacker esteve [no ministério]. Porque eu tomo as providências, afasto as pessoas com as quais ele esteve, as pessoas a quem ele orientou", declarou Monteiro, alegando não poder se basear apenas no registro de entrada e saída de visitantes da pasta. "Ele esteve lá. O que eu não sei é com quem ele esteve e o que conversou. E para tomar as providências [cabíveis] eu preciso saber [isso]. Ele pode ter dado o nome de fulano [na recepção do ministério] e não ter estado com ele. As pessoas estão lá. Só preciso que a PF me diga quem são. E então eu vou afastar para que a PF depure se a conversa foi comprometedora ou não", acrescentou o ministro.

Consultada pela reportagem, a PF se limitou a responder que não se manifesta sobre investigações em andamento.

Operações

Delgatti está preso em caráter preventivo desde o último dia 2. Ele foi detido com a autorização do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação 3FA. Em um primeiro depoimento, o hacker admitiu que, em janeiro deste ano, invadiu os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu falsos documentos e alvarás de soltura no Banco Nacional de Mandados de Prisão. Entre os documentos falsos estava um mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

O hacker também já disse ter agido a pedido da deputada Carla Zambelli, com o intuito de desacreditar o Poder Judiciário. A deputada, por sua vez, nega ter pedido ou pago o hacker para que fizesse isso.

No mesmo dia em que prenderam Delgatti, policiais federais estiveram na casa e no gabinete da parlamentar, cumprindo mandados judiciais de busca e apreensão de documentos que pudessem contribuir para as investigações que deram origem à Operação 3FA. Na ocasião, Zambelli convocou a imprensa para esclarecer sua relação com Delgatti. A deputada admitiu ter pago R$ 3 mil para que o hacker fizesse melhorias no site e redes sociais dela e confirmou que apresentou o hacker ao presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, e ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Segundo Zambelli, o hacker queria oferecer os serviços dele ao PL, participando de uma eventual auditoria nas urnas eleitorais eletrônicas. Porém, Zambelli disse que o negócio não foi fechado.

Esta é terceira vez que o hacker é preso preventivamente desde julho de 2019. A primeira detenção ocorreu no âmbito da Operação Spoofing, que apura a invasão dos telefones celulares do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e hoje senador, Sergio Moro (União Brasil -PR), e de outras autoridades.

Libertado em setembro de 2020, mediante a obrigação de cumprir várias medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de manter contato com outros réus da Operação Spoofing, Delgatti voltou a ser preso em junho deste ano por descumprir as medidas judiciais. O hacker passou cerca de um mês preso até ser solto mais uma vez, com a obrigação de voltar a usar tornozeleira eletrônica e cumprir novas medidas cautelares. Ele estava em liberdade até que, no início deste mês, diante das novas provas da participação de Delgatti na invasão dos sistemas do Poder Judiciário, a PF pediu sua prisão.

O apelido Hacker da Vaza Jato se deve à divulgação das informações extraídas ilegalmente dos aparelhos telefônicos de autoridades, como a troca de mensagens entre Moro e o ex-procurador da República e então coordenador da força-tarefa Lava Jato, o atual deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Ao se tornarem públicas, as informações deram origem à chamada Operação Vaza Jato, expondo os bastidores da Operação Lava Jato e reforçando os argumentos dos críticos que acusavam o Poder Judiciário de vazar informações sigilosas, de forma seletiva, com objetivos políticos, além de violar o devido processo legal e o princípio da imparcialidade e abusar das prisões preventivas como forma de forçar os investigados a fazerem acordos de delação premiada.

Edição: Aline Leal




Comunicar erro
BANNER QUEIMADAS

Comentários