Nova fiscalização encontra "violações graves" no Lollapalooza dias após resgate de trabalhadores escravizados

Por Portal O Piauí em 25/03/2023 às 19:25:15

A ação foi realizada pela Superintendência Regional do Trabalho no Estado de São Paulo, ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego a mesma equipe que resgatou os funcionários escravizados no início da semana. “São violações graves. A empresa já foi notificada, exigimos que a situação seja regularizada imediatamente”, afirma Rafael Brisque Neiva, auditor fiscal do Trabalho que participou das fiscalizações. Segundo ele, a Team Eventos terá que comprovar que se adequou à legislação e que realizou os pagamentos dos direitos devidos aos trabalhadores.

Em resposta aos questionamentos enviados pela Repórter Brasil, a Team Eventos informou que “em menos de 24 horas teve que mobilizar grande contingente de pessoal e promover ajustes em nossa operação a fim de realizar o serviço”, a disse estar “trabalhando nas adequações cabíveis”. Já a Time for Fun (T4F), dona do Lollapalooza no Brasil, disse que solicitou “imediata regularização” dos direitos trabalhistas e “o encaminhamento das comprovações” por parte da terceirizada. “Temos firme compromisso com o respeito às pessoas e à legislação”, complementa. A íntegra das respostas está no final do texto.

A empresa Team Eventos foi contratada pela T4F de forma emergencial após a Yellow Stripe, outra terceirizada, ser flagrada usando trabalho escravo na terça-feira – e ter seu contrato rescindido. “A T4F continua omissa, deixando de fiscalizar e verificar o cumprimento da legislação trabalhista pela nova empresa contratada, uma falha no seu processo de devida diligência”, diz Neiva.

Leia mais: Exclusivo: Festival Lollapalooza é flagrado com trabalhadores escravizados em São Paulo

A Team Eventos havia combinado com os trabalhadores o pagamento de diárias de R$ 160 e jornadas de doze horas, sem o pagamento das quatro horas extras adicionais ao turno regular, de 8 horas. Além desse problema, de acordo com a legislação, é obrigatória uma folga de 36 horas após essa jornada estendida, mas os trabalhadores do Lollapalooza tinham direito a um descanso inferior a 11 horas depois de cada dia de trabalho.

O Lollapalooza começou na sexta-feira, com um público estimado em 103 mil pessoas, e vai até domingo (26). O ingresso para um dia de evento custa R$ 1.300, mas pacotes luxuosos chegam a R$ 5.300, e garantem os três dias de shows e acesso às áreas VIPs, com cadeira de massagem e outros benefícios. Dentre as atrações deste ano estão grandes nomes da música, como Billie Eilish, Lil Nas X e Drake. No ano passado, o festival movimentou mais de R$ 400 milhões, segundo a prefeitura paulistana.

Histórico de trabalho escravo

Na terça-feira uma fiscalização resgatou cinco trabalhadores em condições análogas à escravidão no autódromo de Interlagos, sede do festival. Eles trabalhavam como carregadores de bebidas em jornadas de 12 horas diárias: “Depois de levar engradados e caixas pra lá e pra cá, a gente ainda era obrigado pela chefia a ficar na tenda de depósito, dormindo em cima de papelão e dos paletes, para vigiar a carga”, afirmou J.R, um dos resgatados,  à Repórter Brasil.

A Yellow Stripe, terceirizada responsável pela contratação dos trabalhadores, informou em nota que “cumpriu as determinações do Ministério do Trabalho, sendo que os empregados em questão foram devidamente contratados e remunerados”. Já a T4F afirmou tratar-se de um “fato isolado”, e disse repudiar “veementemente o ocorrido”.

Deputadas pedem proibição de novo Lollapalooza

Um grupo de deputadas e vereadoras de São Paulo protocolou na sexta-feira uma medida cautelar pedindo o veto a novas edições do festival de música Lollapalooza pelo uso de mão de obra em condições análogas à de escravo. O pedido, assinado pelas parlamentares Sâmia Bonfim, Mônica Seixas e Luana Alves, todas do PSOL, tem como base reportagem da Repórter Brasil que abordou o resgate de cinco trabalhadores em situação de trabalho escravo nas dependências do festival.

O documento foi enviado ao governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas e ao secretário da Fazenda e Planejamento, Samuel Kinoshita. Ele pede que seja aplicada a lei 14.946/2013, que prevê punições para “qualquer empresa que faça uso direto ou indireto de trabalho escravo ou em condições análogas”. Agora cabe à Justiça julgar a procedência do pedido, o que não tem prazo para ocorrer.

As parlamentares solicitaram a “cassação de sua inscrição [da T4F] no ICMS e a proibição de seus sócios exercerem o mesmo ramo de atividade ou inscrição de nova empresa no estado de São Paulo, nos termos legais”. Medida que na prática inviabilizaria novas edições do festival. 

“A empresa Time 4 Fun afirma que foi um caso isolado, mas todos sabem que em 2019 ela já havia sido denunciada por uso de mão de obra análoga à escravidão na montagem dos palcos”, diz a deputada federal Sâmia Bonfim.

Leia a íntegra dos posicionamentos das empresas:

Team Eventos

A propósito dos questionamentos , esclarecemos :

1 -Fomos contratados em caráter emergencial no dia 22/03/2023 , em função do rompimento de contrato com a antiga prestadora de serviço

2- Em menos de 24 horas tivemos que mobilizar grande contingente de pessoal e promover ajustes em nossa operação a fim de realizar o serviço

3 – Já no dia 24/03/2023 , no inicio da nossa operação fomos submetidos a processos de inspeção por parte do Ministério do Trabalho. Em respeito as determinações apresentadas , estamos trabalhando nas adequações cabíveis

Time for Fun (T4F)

A Time for Fun tem firme compromisso com o respeito às pessoas e à legislação. Nossa conduta empresarial está expressa em normativos que são divulgados para nossos públicos de relacionamento, dentre os quais colaboradores, fornecedores e prestadores de serviço. Por isso, logo que chegou ao nosso conhecimento as determinações do Ministério do Trabalho com relação a uma de nossas prestadoras de serviço, solicitamos a imediata regularização e o encaminhamento das comprovações.


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