A piauiense Dinailma Oliveira, mais conhecida como Diná, nasceu e viveu a infância e adolescência em Anísio de Abreu. Há 30 anos foi para São Paulo em busca de um tratamento de saúde e terminou se apaixonando pelas terras paulistanas.
Lá, tudo para ela era deslumbrante, as pessoas eram bonitas e havia a história de que podiam prosperar e fazer um bom pé-de-meia. Hoje, ela reside na cidade de Ribeirão Preto, interior paulista, onde mora com as filhas e netas. Mas a saudade do Piauí ainda é grande.
Na pandemia, Diná se juntou a um grupo de mulheres de Ribeirão Preto em torno de um projeto voluntário. Elas coletam caixas de leite vazias na vizinhança e fazem mantas térmicas para distribuição gratuita entre pessoas em situação de rua que sofrem com o frio.
Para fazer uma manta térmica são usadas 18 caixinhas. Seis delas são emendadas, formando três tiras de lâminas costuradas uma na outra. Depois juntam as lâminas na máquina de costura, fazem o acabamento e está pronto para uso.
QUAL SUA MAIOR SAUDADE DO PIAUÍ?
Tinha muita saudade de tudo, do acolhimento, das pessoas, das amizades e de conhecer todos os vizinhos. Em São Paulo, na capital, o que faz sentir muita falta do Piauí é a amizade dos vizinhos. Aqui, a gente mora um ano ou 10 anos no mesmo endereço, e não conhecemos a vizinhança.
Normalmente as pessoas nem falam bom dia entre si, é sempre uma correria. Atualmente moro em Ribeirão Preto, interior do estado. Aqui eu até que me sinto melhor devido ao clima, que é bem parecido com o do Piauí, é bastante quente e seco. Mas quando morei na capital paulista, minha saudade era constante. Sempre tinha vontade de voltar a morar no meu estado. Então, eu acho que minha maior saudade é o aconchego, o acolhimento e amizade dos vizinhos.
Apesar de não ter mais pai e mãe vivos, sinto saudade dos demais familiares, das pessoas, do lugar, da liberdade, porque quando eu morava no Piauí, era livre, havia uma sensação de liberdade enorme. Você podia andar a qualquer hora da noite, e todos se conheciam e se cumprimentavam. Então, a gente era livre. Por aqui, essa liberdade não existe. Vivemos atrás de grades, em casas fechadas, e sempre preocupados em trancar tudo.
Na minha cidade onde vivia na juventude era uma cidade onde se andava a qualquer hora, e não havia perigo algum. Disso eu tenho mais saudade, das pessoas se cumprimentarem, se conhecerem, ir um na casa do outro, fazer visitas a qualquer hora, e a questão da liberdade.
FALE UM POUCO SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS DE VIDA, COSTUMES, NOVAS AMIZADES, HISTÓRIAS NO PIAUÍ.
Tenho muita saudade dos costumes, da culinária, das coisas que comíamos. O cuscuz, o beiju, que é chamado de tapioca em terras paulistas. Eu estou resgatando para que minhas netas possam conhecer a culinária piauiense. Minha irmã trouxe um capote outro dia e eu fiz, para que elas conheçam algumas comidas típicas do nosso Piauí.
O QUE LEVOU VOCÊ A SAIR DO PIAUÍ?
Eu não vim para São Paulo com a intenção de morar. A primeira vez que viajei para cá foi por questões de saúde, estava em busca de um tratamento. Isso no início dos anos 1980. Fiquei na capital durante um ano realizando esse tratamento. Só que me apaixonei pelas terras paulistanas, pois criei uma ilusão de que as pessoas eram bonitas, prósperas, que dava para ganhar muito dinheiro, que era legal, que as pessoas conseguiam trabalhar e ter uma boa estabilidade.
Tinha 17 para 18 anos. Aí nesse ano que fiquei em Sampa, não trabalhei, apenas fiz meu tratamento e passeava pela cidade. Meus tios me levavam em vários lugares legais. Daí, criei essa ilusão já mencionada. Depois desse período que estive por lá, regressei ao Piauí. Ao chegar em minha terra não conseguia mais viver por aí, já que aquela ilusão estava muito forte em minha cabeça. Eu queria voltar para São Paulo a qualquer custo.
Lembro que tive de criar várias confusões, várias coisas para retornar à terra da garoa. Quando regressei a São Paulo, fui enfrentar a realidade que não tinha em mente. Várias coisas aconteceram. Tive que tomar conta da minha própria vida, trabalhando e procurando sobreviver. Depois que completei 20 anos é que conheci a realidade, que eu me toquei de ter que morar sozinha, me virar para pagar aluguel.
Foi uma confusão. Mas graças a Deus, até hoje estou morando em São Paulo, só que na cidade de Ribeirão Preto. Mas o que me trouxe para cá foi a questão da ilusão, do sonho de que São Paulo era uma cidade maravilhosa, próspera, muito bonita, que tudo é fácil. Só que não é nada fácil. Trabalha-se muito e gasta-se muito.
COMO É A CIDADE EM QUE VOCÊ VIVE HOJE?
Nunca tive muitas amizades em São Paulo. Até que me mudei para o interior em 1987, e por aqui, tenho muitas histórias boas a contar. Morei durante três anos em uma cidade chamada Monte Alto, e depois me mudei para Ribeirão Preto, no ano de 1992. Ribeirão foi a cidade que mais me acolheu, onde vivi uma vida melhor, mais saudável e mais livre. Constituí muitas amizades. Minhas três filhas estudaram em boas escolas. Aqui eu pude ter um pouco mais de paz e de sossego. Essa cidade é bem evoluída, uma pequena metrópole com 1,1 milhão de habitantes, baseado em dados estatísticos. Minhas filhas se formaram aqui também. Uma estudou na USP de Ribeirão e na Faculdade de Ribeirão Preto. E até hoje, estamos tranquilos por aqui. Uma cidade muito boa para se estudar e trabalhar. Além do povo bastante acolhedor.
Quando eu me mudei para Ribeirão Preto, fiquei um pouco assustada, porque era tudo novo. Tive que recomeçar minha vida. Já tinha filhos pequenos. Entretanto, não tenho nenhuma experiência negativa. Por aqui, só coisas boas! Fui morar em uma travessa onde podíamos fechar as entradas dela para as crianças brincarem; e um grupo de mulheres se reunia para cuidar dessas crianças em determinados horários, com revezamentos, para que elas pudessem brincar sossegadas. Então, minha experiência é muito boa. Atualmente trabalho como costureira em casa, mas já fui vendedora de móveis, assistente de sala em uma escola infantil e vendedora de roupas.
O QUE É O PIAUÍ PARA VOCÊ? PRETENDE VOLTAR OU SÓ PASSEAR?
Eu morro de vontade de, na minha velhice, voltar a morar no Piauí, em Anísio de Abreu, minha cidade. Entretanto, acho que isso não acontecerá porque minha família já criou raízes aqui em Ribeirão Preto; acho meio difícil retomar moradia no Piauí. Mas tenho muita vontade, sim. E sempre vou a passeio. Há um ano estive em Anísio de Abreu, gosto demais. Amo Teresina e o Piauí. Mas voltar a morar acho que não vai rolar. Só acontecerá se for por um milagre. Tenho tanta saudade do Piauí, que estou fazendo um curso para aprender a tocar sanfona.