Coluna Maria da Inglaterra estreia em grande estilo com entrevista de Beth Moreno

Nossa estrela Beth Moreno, sambista há mais de 30 anos, tem uma carreira consolidada e muitos projetos pela frente.

Por Portal O Piauí em 27/11/2021 às 08:00:00

VEJA A ENTREVISTA COM A BETH MORENO

A estreia da nossa Coluna será em grande estilo. Uma super entrevista com a Marrom do Piauí. Nossa estrela, Beth Moreno!


Beth, me conta como foi sua infância. Quais as melhores lembranças desta época?

Bom, a minha infância foi maravilhosa. Venho de uma família grande. Somos 12 irmãos. Então, a casa estava sempre muito cheia. Meu pai e minha mãe sempre muito presentes, cuidadosos. Então, são tantas lembranças maravilhosas, né? Principalmente o contato com meu pai, Luís Santos, que é coronel e maestro. Ele nos educou no modelo de um regime militar, mas sempre ladeado de muita música. Ele sempre foi muito atencioso com nossos estudos, com nossa disciplina e, hoje, eu agradeço muito por isso.

A cozinha da minha casa estava sempre cheia. Lembro daqueles panelões de comida, todo mundo acordando de manhã para ir ao colégio. Aquele café da manhã na mesa enorme.


Quando você despertou para a música? Aquela coisa de a ficha cair e você se dar conta de que nasceu para cantar?

Na verdade, acho que já nasci predestinada a isso, sabe? Nasci com essa missão, porque como eu falei, já tenho no sangue essa questão da música. É hereditária! Mas a minha relação com a arte não começou pelo canto; e sim, pela dança. Eu estudava em um colégio público que iniciou um projeto com dança, pintura, outras coisas voltadas à cultura. Daí comecei a fazer ginástica rítmica, que também envolve música. E foi uma experiência maravilhosa. Depois da primeira apresentação dançando, tivemos que nos apresentar em um evento dançando e, também, cantando, como um musical. Então, comecei a cantar um pouquinho.

Só que na minha casa, sempre teve a tradição de muita música aos fins de semana. Lembro de meu pai tocando, juntamente com o pessoal da banda que ele formava na Polícia Militar. Também tinha meu irmão, professor José Luís, in memoriam, tocando seu violão. De vez em quando, meu pai pedia pra eu cantar no Clube da Polícia Militar, que costumávamos ir aos fins de semana. Eu gostava de cantar àquela época, Festa do Interior, inspirada em Gal Costa. Fui crescendo e começando a andar em barzinhos, prestigiando os amigos cantores, como Felizardo Calaço; outro grande incentivador, no início da minha carreira. Mas quem me fez despertar, de fato, para a música foi meu irmão, o maestro Luciano Santos, que me convidou para cantar em um barzinho sem contrato ainda. Daí, o dono do bar gostou da minha voz forte, já puxando para o samba, e me contratou. Ali minha ficha caiu que era o início da minha grande e longa carreira, que me orgulho tanto e desejo que ela cresça cada vez mais, porque vim predestinada para isso. Essa é minha missão.

Quais artistas te influenciaram logo no início?

Comecei cantando MPB e, assim, me apaixonei por vários cantores que até hoje me influenciam em tudo o que faço. Sou sambista, mas coloco artistas como Djavan e Elis Regina, dentre outros no meu repertório. Tem outra cantora que eu tinha o vinil dela da época e eu ficava cantando todas as canções, inclusive ainda hoje, eu a escuto nos meus domingos, quando acordo. É a Rita Lee.

Também ouço, até hoje, a cantora Rosana e posto trechos das músicas dela, porque representou muito na minha transição de adolescente para adulta. Inclusive, quando bem jovem, ganhei um vinil de presente de Natal. Uma felicidade imensa. Aos domingos também coloco "Como uma deusa" e outros sucessos dela.

Outra influência muito marcante, para mim, na transição da MPB para o samba foi Alcione. Nossos pais eram muito amigos. Daí ela começou a vir de São Luiz e ficava hospedada em minha casa. Eu ficava olhando, admirando aquela mulher com aquela voz tão forte.

Um dia, ela foi se apresentar no Clube da Polícia Militar, conhecido como Tigrão. Só que antes do show, ela e todos que estavam lá em casa começaram a cantar e tocar; e ela tanto cantava, quanto tocava seu trompete. E aquilo me deslumbrou. Minha voz era aguda, mas depois de conhecer Alcione, a Marrom, meu timbre mudou e as pessoas começaram a associar a minha voz à dela.

Hoje, eu sou chamada, carinhosamente, como a Marrom do Piauí. É um carinho que me deixa muito honrada. Antigamente, eu ficava meio constrangida quando me chamavam assim, mas aí depois vi que temos um trabalho vocal semelhante. Isso me envaidece e me torna maior como cantora. Atualmente, sou das pessoas que mais divulga o trabalho dela; e ela reconhece isto.

Meu repertório também passeia pela música de Beth Carvalho, Arlindo Cruz e Leci Brandão.


Como é a relação da música entre você e sua família?

A relação que eu tenho com a minha família e a música é cem por cento, porque vem desde o início. Já nasci já com a música. Meu pai é um grande maestro, formador da Banda da Polícia Militar e do CEFET de Teresina. Tudo o que eu faço em minha vida tem ligação com a música, mesmo quando eu dançava tinha a ver com a música. Na época, eu não entendi, mas é uma coisa que veio passando de pai para filhos; de avô para netos, bisnetos, primos, sobrinhos. Todos envolvidos com a música.

Minha família tem grandes nomes no cenário musical piauiense como o meu irmão e maestro Luciano Santos, minha sobrinha Virna Lise e seu filho João Neto, os sobrinhos Luiz Júnior e Carlos Carvalho, meu outro irmão Luís Santos Barão, minha irmã Ana Adélia, o mano Adelino Santos. E tem ainda meu filho, Bruno Moreno, que é baterista e cantor; e minha filha Lorena, também canta.

A raiz do nosso pai Luís Santos vai passar ainda para muitas gerações da nossa família, porque sua arte está percorrendo nossas veias. Toda minha influência musical tem base na minha família, da qual sou fã, principalmente pelo amor à arte. Somos ricos pelo berço que tivemos.

O que o palco significa para você?

O palco para mim, desde o início, foi o primeiro encanto, quando subi e pude ver de cima, porque naquele olhar, eu via um futuro, um horizonte. Então, o meu palco sempre foi um lugar sagrado, onde me realizo, onde me divirto. É onde me emociono e onde tudo o que tem no meu coração transborda. Subo ao palco e qualquer tipo de tristeza vai embora. Nele, sou feliz. É no palco onde encontro respostas em cada canção e, também, quando recebo tanto carinho do público. Sempre faço questão de agradecer à fidelidade do meu público. O palco é um canto de amor, onde a gente distribui o bem para quem está ali nos assistindo.

Você levou seu brilho para Santa Catarina, onde morou por um tempo. Qual sua relação com esse estado e como o público de lá recebeu sua música?

Sempre tive vontade de conhecer outras culturas, novos lugares, ter novas vivências. Coincidiu de minha filha Lorena morar em Santa Catarina. Certa vez, ela me convidou para passar o fim de ano lá com ela e o noivo Cristian. Já conhecia outros lugares como São Luiz, Fortaleza, Brasília, mas ainda não tinha ido para tão longe, como o sul do país. Fui passar o fim de ano, voltei para Teresina, mas fiquei inquieta querendo voltar para Santa Catarina e conhecer mais a cultura, os costumes de lá. E fui! A ideia era passar um mês, mas quando me dei conta, já havia passado seis anos vivendo fora do meu estado. Lá, conheci pessoas e tive a oportunidade de mostrar o meu trabalho e, também, de conhecer outros artistas. Em Florianópolis tem o Espaço Praça Onze, que é o reduto do samba daquela cidade, onde fiz amizade com Marcos Caneta, de um movimento negro de lá e que está formando a primeira Escola do Olodum fora da Bahia. Aliás, tornou-se um grande amigo meu! Então, Marcos começou a inserir meu nome nos projetos e fui mostrando minha música e passando a ficar conhecida. Participei de três edições de um projeto que misturava música e poesia, levada por Caneta. Depois disso, participei do FenaOstra; um projeto musical com vila gastronômica e grande visitação do público. Nele, fiquei em terceiro lugar. Foi uma imensa felicidade! Esses, quase, sete anos que passei em Santa Catarina foram muito ricos de aprendizado. Hoje, estou de volta à minha linda Teresina, mais forte, com mais aprendizado e mais experiente.

Ao longo da sua carreira, tem algum show que você considera o mais importante ou mais marcante? Se sim, qual?

Foram muitos shows maravilhosos, ao longo da minha carreira. Mas tem um, em especial, que não só eu, mas toda a minha família, guardamos num lugar especial do coração. Foi o primeiro show da Alcione que eu abri. Foi na AABB. Um show repleto de emoção, muito pela convivência que sempre tive com ela na minha casa, mas também por ser a primeira vez que pude subir no mesmo palco que ela e ver de perto toda aquela força que tanto me inspira desde o início. Neste dia, cantamos, juntas, a música Suave Veneno, e esta música está no meu repertório até hoje por sempre me remeter a este momento, quando me consagrei, de fato, como cantora e representante desta grande intérprete da música brasileira. Ainda hoje, meus amigos lembram daquele dia. Era uma energia muito forte que ela emanava. Foi único e inesquecível!

Como você descreveria a música piauiense?

Sempre fui apaixonada pela música piauiense, porque também na minha própria família tem grandes compositores. No meu último DVD, que fiz "Os sambas da minha vida", gravado ano passado, tenho duas composições do meu irmão Zé Luiz Santos, que são "Ri melhor quem sorri no final" e "Decepção de amor". Então, sempre fui fã, porque já começou da família, com meu pai, do qual sou fã. Ele compôs "Gina, Ana, Beth", que ele fez para mim e minhas duas irmãs. Inclusive já gravei esta linda canção e está também no YouTube. Sempre estive envolvida com músicas autorais piauienses. Tenho amigos compositores incríveis. Então, eu gravo, canto, faço questão de divulgar o que produzimos no Piauí. Depois de morar fora, me certifiquei do quanto somos ricos em músicas autorais. Gosto de encontrar com amigos, como Vavá Ribeiro, que contam como foi o processo criativo de suas músicas. Nossas canções podem tocar em qualquer lugar do Brasil e do mundo que farão sucesso.

Já uma estrela consagrada, o que você ainda deseja conquistar profissionalmente? E pessoalmente?

Bom, ainda tenho vários projetos que eu gostaria muito de fazer. Depois de dois anos de Pandemia, percebi o quanto ainda temos de trabalhar e correr atrás de nossos projetos. Um deles é gravar um CD de músicas autorais piauienses. Gostaria de fazer clipes de composições feitas pela minha família. Também quero muito fazer o lançamento do meu DVD na Praça Pedro II com a participação dos amigos, com aquele cenário do Theatro 4 de Setembro, o que não foi possível ainda por conta da Pandemia. Este DVD foi a realização de um sonho e ele foi gravado num momento muito delicado da nossa história recente. Depois de anos sonhando, fui contemplada pela Lei Aldir Blanc, que surgiu para ajudar nós, artistas.

Você está sempre inovando nos seus trabalhos. Algum projeto novo?

Estou na fase de querer inovar, dar nova roupagem ao meu trabalho. Músicas fixas do meu repertório, como as da Alcione, estamos dando uma repaginada a exemplo da música "Você me vira a cabeça", que meu maestro Luciano Santos colocou um swing diferente. Outra novidade é a participação dos meus convidados pra lá de especiais. Tem ainda a dobradinha com meu filho, Bruno Moreno, que é cantor, mas estava mais voltado para sua outra atividade de baterista. E, com minha volta para Teresina, retomamos o projeto "Juntos como antigamente", em referência ao início da carreira dele, quando cantávamos juntos. São dois gêneros musicais e duas gerações no mesmo palco. Um trabalho muito lindo e cheio de carinho.

Para breve, tem um projeto muito bacana com oito cantoras no palco. Cada uma com seu estilo. Quero mostrar desde o samba, ao forró, passando pelo rock e outros gêneros. Teresina aumentou muito a quantidade de talentos incríveis. Então, será um momento de unir a experiência com quem está chegando agora.

Que conselho você daria à juventude que sonha em fazer música?

Digo que não desista, que sonhe alto, com fé e muito estudo. E, sobretudo, que ame a música, ame fazer arte. Que você se sinta um escolhido para fazer música. Se doe o máximo para seus projetos. Quando for cantar, mesmo que tenham apenas duas pessoas, sinta como tivesse uma multidão. Olhe fixo para quem está te ouvindo. E sempre receber bem o público com boa energia, dedicação e amor. Esta é a fórmula perfeita para quem deseja fazer música. Desistir, jamais!

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