Associação estimula debate nas escolas sobre violĂȘncia contra a mulher no Distrito Federal

Por Portal O Piauí em 06/11/2021 às 13:45:18

O arrefecimento da pandemia, após o avanço da vacinação, tem devolvido os jovens ao ambiente escolar. Com a volta dos adolescentes às escolas, à convivĂȘncia com colegas e professores, a Associação de Mulheres de Sobradinho II, iniciou em setembro, em 18 escolas do Distrito Federal, um debate sobre a violĂȘncia contra a mulher. A associação aborda a agressão sofrida dentro de casa e, muitas vezes, invisível ao Estado e à comunidade ao redor.

Para muitos estudantes, o tema é muito pessoal. As atividades realizadas nas escolas tĂȘm provocado debates entre os oficineiros, alunos e professores. Robson Salazar, diretor de uma das escolas atendidas pelo projeto, notou que, após o período de isolamento social, alguns de seus alunos tĂȘm retornado com suas próprias experiĂȘncias de violĂȘncia doméstica. E, após as atividades, se sentem estimulados a compartilhĂĄ-las.

"A gente observa que o período da pandemia trouxe um comportamento extremamente agressivo, e nossos alunos estão voltando [às aulas] em um contexto de violĂȘncia, de uma carga emocional muito forte. Quando fomos procurados pela associação, de imediato aceitamos a proposta porque entendemos a necessidade e a importância desse tema nesse atual momento", disse o professor.

Nas atividades da associação nas escolas, os estudantes tĂȘm espaço para se manifestar, e os relatos começam a surgir. "Quando terminam as palestras, antes de iniciarem as oficinas, é aberta uma pequena discussão e a gente vĂȘ a fala dos nossos alunos. Em casa eles tĂȘm exemplos de violĂȘncia doméstica e começam inclusive a nos procurar, a procurar o serviço de orientação", disse Robson, que acompanha de perto o trabalho da associação em sua escola.

Ivonete dos Santos é assistente social e coordenadora-geral do projeto. Durante o trabalho nas escolas, ela abre espaço para os estudantes compartilharem suas impressões e experiĂȘncias sobre o assunto. "Muitos casos são citados por eles. E como a maioria tem espaço livre para interagir com os oficineiros, eles acabam se sentindo à vontade para perguntar, refletir, indagar e até mesmo contar situações vividas por eles".

Mas nem todos se sentem à vontade para contar suas histórias em público. Alguns estudantes procuram o corpo docente para desabafar. Segundo Robson, esses alunos trazem de casa traumas emocionais, em relatos tristes de se ouvir. "É uma realidade que começa a se apresentar, de que existe um problema muito sério e uma carga emocional muito grande nas famílias dos alunos", disse Robson.

Uma estudante contou que sua mãe era agredida pelo pai dentro de casa. Em outro caso, uma menina relatou aos professores ter sofrido abusos sexuais por um parente, em um episódio que envolveu a polícia e a imprensa no DF. "São situações de toda ordem que temos presenciado depois desse retorno da pandemia", disse o diretor.

De acordo com balanço da Secretaria de Segurança Pública do DF, quase 8 mil ocorrĂȘncias de violĂȘncia doméstica foram registradas no primeiro semestre de 2021, na capital federal.

O projeto Valorização das Mulheres e Combate ao Machismo nas Escolas estĂĄ sendo conduzido pela Associação de Mulheres de Sobradinho II nas escolas da região norte do Distrito Federal, com acompanhamento da Secretaria de Educação, por meio da Coordenação Regional de Ensino. São realizadas palestras, peças teatrais, concursos de redação e apresentação de conteúdo audiovisual. O projeto prossegue até o dia 8 de março de 2022.

"Acreditamos que as ações pedagógicas tĂȘm como objetivo a reflexão nos papéis sociais, de modo que possamos fazer com que o número de prĂĄticas machistas e violações de direitos contra meninos e meninas diminua", explica Ivonete.

Cultura do machismo

Além dos relatos pessoais, os jovens são estimulados a discutir a violĂȘncia contra a mulher e a origem machista desses episódios. "O projeto utiliza a educação como instrumento de reflexão para a mudança da cultura machista da nossa sociedade, estimulando debate nas escolas para criar uma nova perspectiva de respeito e valorização das mulheres", disse Ivonete.

Segundo a coordenadora do projeto, o primeiro contato dos jovens com comportamentos violentos contra mulher acontece, na maioria das vezes, dentro de casa. Por isso, essa parceria escola-família é muito importante. "A associação oferece assistĂȘncia a famílias vítimas de violĂȘncia doméstica com roda de conversa, conscientizando as famílias sobre essa violĂȘncia e o machismo estrutural, da mesma forma que levamos o debate para dentro das escolas, com as oficinas".

A associação

A Associação de Mulheres de Sobradinho II é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que hĂĄ 20 anos desenvolve atividades de atenção às vítimas de violĂȘncia doméstica. Nos últimos anos, expandiu seu atendimento para mulheres em situação de vulnerabilidade social, atendendo suas famílias e realizando ações de empoderamento dessas mulheres.

A associação também promove ações como distribuição de cestas bĂĄsicas, cestas verdes, bazares, dança terapĂȘutica, palestras, encontro semanal para idosas. Ela também conta com atendimento psicológico, nutricionistas e aconselhamento jurídico, entre outros serviços.

Edição: Fernando Fraga

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