Estudo inédito mostra a importância do acesso à internet e revela que rede comunitária é alternativa de conexão para comunidades

Embora a rede comunitária seja apontada como saída, o Piauí tem o exemplo da Parceria-Público Privada Piauí Conectado que leva internet gratuita a mais de 200 municípios

Por Portal O Piauí em 06/09/2022 às 07:46:36
Em escola pública do Quilmbo Mimbó, alunos usam internet de alta velocidade que foi possível graças à PPP Piauí Conectado, uma parceria entre a iniciativa privada e o governo do Piauí

Em escola pública do Quilmbo Mimbó, alunos usam internet de alta velocidade que foi possível graças à PPP Piauí Conectado, uma parceria entre a iniciativa privada e o governo do Piauí

Levantamento inédito produzido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), lançado nesta segunda-feira (5), em São Paulo, revela o perfil de redes comunitárias de internet no país. São experiências que, muitas vezes, não recebem apoio do Poder Público e de empresas, mas que modificam realidades por meio da conexão digital.

Quatro em cada cinco redes mapeadas (83%) estão em localidades de povos tradicionais, como comunidades quilombolas, aldeias indígenas ou áreas ribeirinhas.

"A rede [de internet] não chega lá, onde chega é nos morros, então era muito difícil. Tinha que fazer a lista de oferta [dos produtos], subir o morro para ofertar e depois tinha que marcar um horário para subir o morro de novo para receber o pedido [das consumidoras]", relata a agricultora Vanilda Aparecida, do Quilombo Ribeirão Grande/Terra Seca, no município Barra do Turvo, em São Paulo. Primeiro, em 2019, foi instalada a rede de intranet para comunicação local e, depois, com a pandemia, foi implantada a internet.

O Estudo não abrange o Piauí, onde existe a PPP Piauí Conectado, a maior iniciativa de internet gratuita em espaços públicos e na comunidade Quilombola Mimbó, no município de Amarante, onde escolas, praças e casas de alunos receberam pontos de Wi-fi gratuitos, para estudos, pesquisas e lazer. Com isso, o Quilombo Mimbó é hoje a primeira do gênero no Brasil mais conectada com acesso à internet de alta velocidade. Além disso, as mulheres empreendedoras vão ter uma vitrine virtual para expor e vender artesanatos e seus produtos voltados para a moda a clientes de outras regiões do Brasil

Com este trabalho inédito no Quilombo Mimbó, é possível perceber o quanto é importante a internet nos dias atuais na vida das pessoas. A tecnologia elevou muito os estudos e contribuiu com as atividades culturais que são realizados por jovens na comunidade. Diante disso, as pessoas de outras regiões do Brasil que ainda não estão conectadas e que precisam das redes comunitárias de acesso à tecnologia poderiam se inspirar no modelo piauiense que é feito por meio de parceria entre a iniciativa privada e o governo estadual.

No Quilombo Mimbó, aluno estuda utilizando tablet e internet do projeto social Mimbó Conectado que foi criado pela PPP Piauí Conectado. E na foto embaixo, professora da comunidade usa tablet e aplicativos para reforçar o ensino-aprendizagem dos alunos em escola pública do quilombo.


A pesquisa, que teve uma etapa qualitativa e quantitativa, foi coordenada pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). O mapeamento listou 63 redes comunitárias, sendo que 40 delas foram entrevistadas. Essas redes podem ser definidas como arranjos de conectividade que não têm como finalidade o lucro, são desenvolvidas por meio de autogestão e pressupõem algum grau de autonomia das decisões e apropriação tecnológica.

As entrevistas com os gestores foram feitas entre 25 de novembro de 2021 e 10 de março de 2022. No momento da coleta, 24 (60%) das redes comunitárias ouvidas estavam ativas, 14 (35%) encontravam-se paralisadas momentaneamente ou em implementação e duas (5%) delas haviam sido encerradas definitivamente.

No Quilombo Ribeirão Grande/Terra Seca, o ponto de internet foi instalado na casa da Vanilda Aparecida com o apoio de organizações da sociedade civil. Melhorou a vida na comunidade e ampliou a comunicação das mulheres agricultoras.

"Pagamos R$ 200 a R$ 300. E esse ponto foi colocado na rede, que é onde a comunidade inteira ficou acessando. Começamos a fazer a nossa reunião online, a criançada [começou a] estudar. Mas isso ainda não está 100%, porque são 15 megas. Para uma comunidade inteira, o pessoal reclama. "Tem que melhorar essa internet"", relata.

No Quilombo Mimbó, torre de wi-fi da PPP Piauí Conectado leva internet gratuita para espaço que é utilizado pelos moradores. Além do lazer, a internet ajuda nas pesquisas e estudos para os estudantes que moram nas imediações do ponto de internet gratuita.

Dados

Sobre o perfil dos usuários, o estudo mostrou que os principais beneficiários são os moradores do entorno (58%), visitantes (48%) e associações (43%), além de outras instituições, como escolas e igrejas (35%) e comerciantes locais (25%).

Os gestores são 55% pretos ou pardos e 20% indígenas – proporção superior à média da população nacional. Já em relação à escolaridade, 40% deles têm ensino superior e 33% pós-graduação, mas não relacionada à especialidade técnica. Em 45% das redes comunitárias, os beneficiários participam das decisões sobre o funcionamento.

O levantamento mostrou, também, que 23% das redes comunitárias fazem um investimento médio mensal de mais de R$ 1 mil para se manter ativas, e 38% têm um custo de até R$ 1 mil. Das experiências ouvidas, 38% contam com doações voluntárias de pessoas da própria comunidade, e igual proporção tem financiamento de organizações não governamentais. Em 28% delas são cobradas mensalidades ou anuidades dos usuários.

"É uma política barata de se manter, então pensar que há muito espaço para se fazer em termos de políticas específicas, ou para incentivar a construção de redes comunitárias, apoiar funcionamento; e também aspectos regulatórios. Na pesquisa qualitativa, tivemos muitas contribuições para facilitar a implementação dessas redes", disse Fábio Storino, do Cetic.br. "Essa pesquisa, pra gente, que é de rede comunitária, é importante porque começa a dar mais força para visibilizar as iniciativas de redes comunitárias no Brasil", acrescentou Daiane Araujo, da organização não governamental Casa dos Meninos.

Sobre a manutenção do funcionamento da rede nos próximos 12 meses, 53% dos entrevistados, ou 21 das 40 entrevistadas, afirmam estar muito seguros ou seguros de que a rede continuará operando. Quase um quarto das redes analisadas (23%) disseram estar pouco ou nada seguros da continuidade da experiência. Outros 18% declararam estar "nem seguros, nem inseguros". Quanto à tecnologia de conexão, 18% usavam rádio, 18% satélite e 13% fibra óptica.

Em relação às principais atividades proporcionadas pelo acesso à internet, figuram a promoção de festividades locais e a mobilização dos membros sobre temas de interesse e campanhas, indicadas por 50% das redes.

Entre os serviços oferecidos estão espaços para gravar, compartilhar online arquivos e documentos (28%), a disponibilização de intranet (23%) e o oferecimento de mural de avisos da comunidade pela internet (18%). Também foram citados serviços de rádio comunitária própria, com 13%, e TV comunitária própria, com 8%.

Agenda

A publicação do estudo traz uma agenda com dez pontos com os principais resultados da pesquisa, sinaliza questões críticas e propõe possibilidades de ação. Entre elas, está o fato de que o modelo empresarial não foi suficiente para prover acesso para todos.

O documento também indica que uma política pública de redes comunitárias deve considerar fontes de recursos financeiros de longo prazo. Também identifica, por exemplo, que a capacidade de organização da comunidade e uma boa governança são elementos principais no êxito de uma rede comunitária.

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