Peça em mosaico, uma das especialidades da artesã Arlene Medeiros
Djalma Batista
Repórter e editor
A artesã do Piauí, Arlene de Carvalho Medeiros Rios, de 57 anos, encheu de simplicidade a sua produção artesanal, no entanto, o que se vê nas peças decorativas são obras de artes com forte poder de resgatar o valor do meio ambiente e tornar o nosso cotidiano muito mais prazeroso.
Para ela, o artesanato é um meio de vida que faz com satisfação e um dom dado por Deus. Com esta inspiração divina, Arlene adquiriu também o faro para o empreendedorismo. Criou o próprio negócio e conseguiu atravessar a pandemia produzindo no ambiente do lar, mesmo diante de toda a problemática da crise sanitária mundial.
Nascida em Teresina, ela é artesã há mais de 20 anos, em várias modalidades, como craquelado em vidro e madeira, decoupagem e bijuterias. Já confeccionou peças para o bloco Bode dos Medonhos no Corso de Teresina.
Seus trabalhos exploram as temáticas quem vêm da inspiração e desafios que a artesã gosta de enfrentar. "A minha inspiração vem dos meus pensamentos e da vontade de criar: fauna, flora e retratar a vida do dia a dia".
Confira esta importante entrevista concedida ao projeto "Feito por Mim", criado pelo Portalopiaui.com.
QUANDO VOCÊ COMEÇOU A TRABALHAR COM ARTESANATO?
Na verdade, eu sempre gostei de artesanato. Quando eu era criança, ficava observando minha mãe fazendo bordado. Aí eu juntava uns pedaços de linha que sobrava, ia procurando miçanga, e ia criando, fazendo alguma coisa. Eu trabalhei muito tempo em farmácia, aí eu saí e montei uma locadora. Muita gente ia à locadora, e me via fazendo essas peças, daí sempre me pediam para fazer encomenda. A partir desses pedidos eu comecei a me apaixonar por artesanato. Então eu faço craquelado em vidro, craquelado em madeira, aí com a pandemia eu resolvi comprar umas máquinas e incrementar a confecção de roupas, já que também sou costureira. Comecei há cerca de 20 anos, com bijuterias. Depois, com costura, pintura em vidro e, agora, mosaico. Sou eclética. Faço de tudo um pouco. Faço os próprios desenhos, sempre inspirada no dom que me foi dado por Deus.
QUAIS OS INCENTIVOS DEVEM TER PARA MULHERES EMPREENDEDORAS?
O incentivo público, na parte de termos cursos, podermos fazer empréstimo, com juro baixo, para comprar material. E, também, o incentivo que toda mulher empreendedora deve ter é a força e coragem aliadas ao gostar de fazer, e a força da família, claro! No meu caso, tenho muito a agradecer a minha cunhada, Lúcia Dias, que é ceramista e professora de mosaico.
QUAL SUA SATISFAÇÃO EM PODER TER SEU PRÓPRIO NEGÓCIO?
A minha satisfação em ter meu próprio negócio é saber que há bons resultados. Isso me motiva a continuar. E, principalmente, porque faço algo que gosto.
O QUE VOCÊ ACHA DAS FEIRAS QUE ESTÃO SENDO REALIZADAS PARA DAR VISIBILIDADE AO PEQUENO EMPRENDEDOR?
Eu acho que é uma grande oportunidade que nos dão para estendermos nossos negócios, e revelar talentos de muita gente que está por aí produzindo e não tem outra forma de divulgar e comercializar seus produtos. Estas feiras que são realizadas em Teresina e outras cidades do Piauí, que surgiram com mais força no universo da pandemia, precisam ser, cada dia, mais divulgadas.
A PANDEMIA ATRAPALHOU SEU TRABALHO DE ALGUMA FORMA?
Sim. A pandemia atrapalhou o trabalho de muitos empreendedores. Artesanato é o pão da vida e a subsistência de muitos. A pandemia me atrapalhou, já que meu marido tinha uma marmoraria na zona Sul, e no local eu ficava em uma sala onde trabalhava só com artesanato. Aí ele fechou a marmoraria, e aí tive que trabalhar em casa. Por outro lado, ganhei mais seguidores no Instagram, e comecei a vender mais e pela internet. É aquela história: uma coisa chama outra. Hoje eu trabalho com bijuteria, mosaico, e às vezes costuro. Trabalhei também fazendo quentinhas, pois tenho formação na área de culinária, entretanto, não é minha praia.
O MATERIAL QUE VOCÊ USA EM SEU TRABALHO, MÁRMORE E CERÂMICAS EM PEDAÇOS, É UM POUCO INCOMUM. VOCÊ JÁ RECEBE OS PEDAÇOS OU FAZ TUDO DO ZERO?
Meu trabalho é feito do zero: corto a cerâmica para moldar as peças, colo, rejunto e encero. Esse é o meu labor.
"DO LIXO AO LUXO" QUAL O SIGNIFICADO DESSA FRASE PARA VOCÊ EM RELAÇÃO AO SEU TRABALHO DE CERAMISTA?
Bom, poderia ser uma verdade(risos), mas não é. Pois esse "lixo" que são os pedaços de cerâmicas e mármores são "lixos" caros; e ainda tem o material para trabalharmos com as peças. O alicate mais barato, por exemplo, custa na faixa de R$180.
O SEU TRABALHO ULTRAPASSA O CONCEITO DE ARTESANATO POR VALORIZAR ASPECTOS IMPORTANTES DA ARTE. COMO VOCÊ ANALISA ISSO?
A força artística que apresentou nos meus trabalhos é o fascínio que eu tenho pela arte desde muito cedo. De acordo com o tema, eu elaboro as cores, os desenhos. As temáticas vêm da inspiração e desafios que gosto de enfrentar. A minha inspiração vem dos meus pensamentos e da vontade de criar: fauna, flora e retratar a vida do dia a dia.