Por Ana Barbour, especial para o WWF-Brasil
A onça-pintada é uma espécie prioritária na estratégia de atuação do WWF-Brasil. A razão dessa escolha está no papel crucial que ela desempenha no ambiente que habita. Para sobreviver esse felino precisa de extensas áreas de vegetação bem preservadas, e, por ser um animal do topo da cadeia alimentar, sua presença indica que todos os seres vivos, bem como o solo, as águas e o ar estão em equilíbrio e saudáveis. Ou seja, onde tem onça, tem tudo!
Apesar dessa importância toda, sua existência se encontra bastante ameaçada. A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino do continente americano, ocorrendo desde o México até o norte da Argentina. Mas no Brasil, ela já foi extinta no bioma Pampa e, embora esteja presente nos demais biomas como Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, é classificada como uma espécie Vulnerável (VU) ameaçada de extinção ao nível nacional. Assim, sofre grandes pressões, como perda de habitat por diferentes razões (mudanças climáticas, desmatamento, incêndios etc.) e conflitos com atividades humanas.
Com o intuito de mudar essa realidade, o WWF-Brasil age em várias frentes, que envolvem principalmente: monitoramento de populações, promoção da coexistência entre onças e humanos, o apoio ao combate a incêndios e a contribuição com o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Grandes Felinos.
Os trabalhos de monitoramento são feitos com a instalação de câmeras na floresta, as chamadas armadilhas fotográficas. Por meio delas é possível observar não apenas a presença dos felinos, mas de muitas outras espécies que funcionam, inclusive, como alimento para as onças-pintadas. "Conhecer a população das espécies é fundamental para que se possa entender seus hábitos e traçar estratégias de conservação", explica Felipe Feliciani, Analista de Conservação do WWF-Brasil.
Exemplos de onde esse trabalho de monitoramento acontece estão no Parque Nacional do Iguaçu (PR), em parceria com o Projeto Onças do Iguaçu, - que faz parte do maior remanescente de Mata Atlântica no mundo. Na Floresta Nacional do Amapá (Flona Amapá) e no Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO), que são regiões de floresta amazônica, no Amapá e no Sul de Amazônia na Floresta Nacional do Aripuanã (Flona Aripuanã).
Coexistência humano-onça
As ações de coexistência do WWF-Brasil estão focadas atualmente na Mata Atlântica, na Amazônia e no Pantanal. Esse trabalho envolve incialmente o diagnóstico de conflitos entre humanos e os felinos: onde ocorrem e por quê.
"Posteriormente são realizadas ações para promoção da coexistência, por meio de uma metodologia de planejamento participativo com as comunidades locais, atores diretamente envolvidos em situações de conflito, formando lideranças para atuarem como multiplicadores", conta Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil
Entre os principais motivos de conflito e abate da onça estão: destruição do habitat (por isso o felino acaba entrando nas propriedades dos humanos); concorrência por alimento (o humano caça as presas da onça. Com menos alimento à disposição, ela busca animais de criação e de estimação); carcaças de animais de criação (que são manejadas de forma inadequada); abate por medo ou por retaliação (com a crença de ser a única forma de evitar a aproximação do felino) ou em encontros incidentais dentro da mata e beira de rios.
Uma das ações recentes para lidar com situações de conflito foi a realização da Oficina Coexistência Humano-Onça no Pantanal, realizada em Campo Grande (MS), nos dias 3 e 4 de outubro, em parceria com a Aliança 5P, que reuniu grupos técnicos de diversas organizações ambientais, especialistas, gestores públicos e produtores rurais.
De acordo com Cyntia, "a atividade teve como foco a elaboração de um plano conjunto de ações para o ano de 2025, visando mitigar os conflitos entre a fauna e as atividades humanas, além de promover a preservação e o monitoramento das onças na região".
Além dos conflitos entre humanos e onças, uma grande ameaça ao felino no Pantanal são os incêndios, que vem se acentuando atribuídas principalmente à crise climática que resulta em secas severas e chuvas insuficientes para manter o ecossistema equilibrado. Só neste ano, o Pantanal já queimou mais que no primeiro semestre de 2020, quando o fogo consumiu 30% do bioma.
Esse cenário levou o Instituto Ampara Animal e o WWF-Brasil a lançarem, em julho, a publicação, Guia de Manejo de Animais Silvestres impactados pelo fogo no Pantanal.
O documento disponibiliza técnicas e ferramentas acessíveis em ações emergenciais sobre como proceder em situações de incêndios. Entre os principais tópicos abordados no Guia estão a indicação de órgãos de resgate, questões de segurança, avaliação de riscos ambientais, equipamentos necessários para o manejo e sedação de animais, protocolos de resgate, técnicas de manejo específicas para diferentes grupos da fauna, primeiros socorros, transporte seguro de animais resgatados e tratamentos para queimaduras.
Essas diretrizes buscam mitigar os impactos imediatos dos incêndios na fauna local e capacitar as comunidades locais e equipes de resgate, promovendo a conscientização sobre a importância da conservação do Pantanal. O Guia pode ser baixado gratuitamente neste link.
Planos de Ação Nacional para Conservação
Outra frente relevante de atuação é o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Grandes Felinos (PAN Grandes Felinos), que tem o objetivo de reduzir a vulnerabilidade da onça-pintada e da onça parda (Puma concolor).
A iniciativa é conduzida pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP) pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mas conta com o apoio de diversas organizações como parte do Grupo de Assessoramento Técnico (GAT), entre elas a do WWF-Brasil.
"Nesse sentido, participamos entre os dias 4 e 8 de novembro, do planejamento do 2º ciclo do Plano para os próximos 5 anos, realizado na sede do CENAP. Essa foi mais uma oportunidade de contribuirmos com nossas experiências em todas essas áreas que temos atuado e colhido resultados animadores", conclui Felipe Feliciani.