Com a presença do ministro do Turismo, Celso Sabino, e outros convidados, a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) celebrou o Dia Mundial do Turismo em audiência pública nesta terça-feira (3). Os debatedores concordaram quanto à persistência de obstáculos ao pleno aproveitamento dos atrativos do país e destacaram a necessidade de investimentos públicos e privados de modo a aumentar a participação do Brasil no mercado turístico internacional. A realização da audiência atendeu a requerimento (REQ 21/2023 — CDR) do senador Marcelo Castro (MDB-PI), que presidiu a reunião.
O Dia Mundial do Turismo, comemorado em 27 de setembro de cada ano, foi instituído em 1980 pela Organização Mundial do Turismo (OMT), sendo uma data de relevância internacional que busca promover a conscientização sobre a importância do turismo sustentável e seu impacto positivo na economia, cultura e desenvolvimento das nações.
Castro apresentou dados que demonstram a pequena participação do país como destino internacional. De acordo como senador, em 2022, o Brasil recebeu 3,6 milhões de turistas estrangeiros, aproximadamente metade da quantidade recebida pela República Dominicana (7 milhões) e dez vezes menos que o México (38 milhões).
Celso Sabino, ao elencar as ações do ministério, argumentou que o Brasil deve seguir o exemplo dos países que souberam reconhecer o turismo como grande força geradora de emprego e renda e disse ter certeza de que o setor atingirá 10% do produto interno bruto (PIB). Entre as propostas que apresentou, o ministro destacou o Plano Nacional do Desenvolvimento do Turismo, que deverá ser submetido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos próximos dias.
— São metas, objetivos, ações e tarefas que precisaremos realizar nos próximos cinco anos, com atribuições para o governo federal, para os estados, para os municípios e para a atividade privada. Isso precisa e será entendido por todos como uma atividade conjunta para que possamos lograr êxito nesta empreitada.
O deputado Moses Rodrigues (União-CE) também previu que o turismo revolucionará a economia do país, mas disse ser necessário investir no potencial internacional do país. Ele lembrou que o Brasil inteiro recebe 7 milhões de turistas estrangeiros por ano, enquanto somente a cidade de Orlando (EUA) recebe 30 milhões.
— É uma aposta que todos nós congressistas devemos fazer, incentivando para que as políticas públicas possam avançar nesse sentido.
André Orengel Dias, gerente de interlocução ministerial da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), citou a crise da pandemia de covid-19 para salientar a necessidade de reconstrução do turismo no país e cobrou mais coordenação entre agentes públicos e privados.
— Sem trabalho conjunto de empresários e poder público, a gente não vai conseguir desenvolver essa atividade com a competitividade que a gente precisa quando a gente está competindo com destinos como a Espanha, a Grécia, os Estados Unidos e muitos outros.
Representando a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Alexandre Sampaio sublinhou a estimativa de que o turismo gerará este ano uma receita de R$ 450 bilhões — crescimento de 8,8% em relação a 2022 — que, em sua avaliação, indica a superação rápida dos patamares pré-pandemia.
— Estamos comprovando: se investirmos no turismo, teremos com certeza crescimento contínuo.
Sampaio também apelou ao Ministério de Relações Exteriores (MRE), argumentando que a volta da exigência de visto para nacionais dos Estados Unidos, Canadá e Austrália criará dificuldades para a captação de turistas de alto poder aquisitivo.
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) defendeu o turismo em Brasília, que disse ser um "museu a céu aberto", cujas atrações vão além da Esplanada dos Ministérios.
— Temos 3,1 milhões de habitantes, com regiões maravilhosas, a segunda maior catedral do Brasil, mais de 60 cachoeiras, o turismo rural é muito grande, o turismo cívico, o religioso.
Na abertura da audiência, Marcelo Castro saudou a "corrente de boas notícias" sobre o turismo no país e seus benefícios econômicos e sociais, mas ressalvou que o desenvolvimento turístico poderia ser muito maior com uma política séria e consistente.
— [As boas notícias] precisam ser encaradas como a centelha de algo maior, mais um degrau rumo ao topo do turismo global. Sabemos de nosso gigantesco potencial, mas ainda temos muito a fazer, muito a avançar.
A posição modesta do Brasil na classificação mundial de destinos turísticos foi considerada "inexplicável" pelo senador Eduardo Gomes (PL-TO), que deu um exemplo da falta de políticas públicas consistentes que estimulem a entrada de visitantes.
— Não consigo entender uma política de compensação ambiental no Brasil que não vincule diretamente financiamento ao turismo.
No mesmo sentido, o ministro Celso Sabino disse que a melhor forma de preservação do meio ambiente e dos biomas é por meio da exploração econômica com o turismo sustentável.
— As cidades que possuem os piores indicadores de IDH [índice de desenvolvimento humano] são cidades que podem muito bem explorar o ecoturismo sustentável e ter, através dessa atividade econômica, uma forma sustentável de permitir ao cidadão dar à sua família crescimento econômico e social.
A demanda por mais investimentos foi consenso entre representantes do segmento. Levi Jeronimo Barbosa, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Distrito Federal (ABAV-DF), cobrou investimento na capacitação de mão de obra e atenção na segurança pública; e o vice-presidente da região Norte do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo (Fornatur), Bruno Dantas de Brito, chamou a atenção para o desafio de atração de investimentos privados para novas iniciativas que descentralizem o segmento turístico.
Karina Câmara, diretora do Centro-Oeste da Associação Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Turismo (Anseditur), também cobrou investimento em mão de obra e clamou por união para o fomento do turismo interno e externo. E Manoel Linhares, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), lamentou a baixa dotação orçamentária do Ministério do Turismo e disse que o Congresso precisa ter atenção à capacidade do setor para gerar empregos.
Fonte: Agência Senado