Bordadeiras da Pedra do Sal investem em bordados que retratam biodiversidade do Delta e atraem muitos clientes

Vendem peças do bordado para diversos locais do Brasil e do mundo, como a Itália

Por Portal O Piauí em 27/12/2021 às 13:12:26

Nos passeios pelo Delta do Parnaíba, no litoral do Piauí, não tem quem não se apaixone, de cara, pela revoada dos Guarás com aquele céu azul no fundo. É uma cena única e boa lembrança na mente para a vida inteira.

Tudo ao redor é encantador: os barcos, as dunas, cajus, carnaubeiras, barcos, peixes e os crustáceos. É uma biodiversidade que atrai, cada vez mais, a atenção de turistas do mundo inteiro.

Inspiradas neste universo de muita beleza, um grupo de 15 mulheres da localidade Pedra do Sal, em Parnaíba, litoral do Piauí, iniciaram a produção de "bordados da vovó" que valorizam a biodiversidade do lugar.

Com tanta demanda pelas peças, capacitam quatro jovens para que possam aumentar a produção. Elas abriram uma empresa MEI e trabalham por meio de parceria coordenada por Norma Sueli Nascimento de Sousa, bordadeira e líder das empreendedoras.

O bordado tem uma causa, que é a defesa da preservação da biodiversidade e do potencial turístico local. Antes, o ofício era um passatempo na frente das casas, mas, com o passar dos anos, viram a atividade como fonte de renda para ajudar os maridos que só viviam da pesca, do extrativismo do caju e do murici.

Nesta entrevista ao projeto Feito Por Mim, do portalopiaui.com, Norma deu mais detalhes sobre o trabalho do grupo. Confira.



Norma foi homenageada na ponte sobre o rio Igaraçu

Quais tipos de bordados você faz?

Trabalhamos com bordados a mão, o chamado "bordado da vovó", que utilizamos vários tipos de pontos: cheio, corrente, dentre outros. Bordamos retratando a biodiversidade e as potencialidades ecológicas e turísticas de Parnaíba e região.

Fotos cedidas pelas bordadeiras da Pedra do Sal

Além do Guará, Cavalo-marinho e dos barcos, quais os outros elementos da biodiversidade vocês retratam nos bordados?

Nós bordamos as tartarugas, fazendo uma alusão à importância da preservação delas, bordamos cajus e muricis no sentido de enfatizar o não desmatamento de cajueiros para a implantação de usinas eólicas. Além disso, bordamos nas nossas peças carnaúbas, dunas, a revoada dos Guarás, a pesca do Camurupim, as dunas do Morro Branco, dentre outros.


Quando você teve a ideia de levar a biodiversidade do litoral piauiense para o bordado?

Aprendemos a bordar com nossa mãe, que aprendeu a bordar com nossa avó. Foi um ensinamento passado de geração para geração. Entretanto, fazíamos bordado apenas para uso pessoal, no intuito de decorar nossa casa. Aí o tempo foi passando, começamos a perceber que as mulheres, além de ficarem ociosas, queriam uma renda extra para ajudar seus maridos, já que eles só viviam da pesca, do extrativismo do caju e do murici.

Muitas delas trabalhavam como domésticas, mas não deixavam de lado o hábito de bordar na porta de casa à tarde. Em 2008, nos reunimos e começamos a produzir os bordados para geração de renda na comunidade. No início, a comercialização era muito fraca, pois fazíamos apenas flores. Não havia diversidade de estampas.

Fomos buscar entender o porquê da baixa rentabilidade dos nossos produtos e, a partir daí, realizamos estudos para idealizar e colocar em prática maneiras de alavancar as vendas. Para isso, buscamos apoio do Sebrae, no intuito de mudar a qualidade do bordado.


Começamos com as assessorias de design, catalogando as potencialidades da região, e nos auxiliando a produzir as peças diferenciadas. De início, bordamos as tartarugas, já que quando falávamos da importância de preservá-las, o cliente se sensibilizava e comprava uma peça.

Com o sucesso, buscamos explorar a fauna e a flora da região, o homem pescando o Camurupim. Até que surgiu a ideia de produzir peças com Guarás. Muitos falavam da revoada dos Guarás. Pedi para minha filha, então estudante de psicologia, pesquisar sobre a ave.

Fizemos uma peça experimental e, atualmente, é o nosso 'carro-chefe'. Graças aos Guarás, as bordadeiras da comunidade puderam voar mais alto. Vendemos para diversos locais do Brasil e do mundo, como a Itália. Além disso, nossas peças já foram expostas para o público internacional, e nacional no museu A Casa Bordada, de São Paulo, com quem temos convênio.


Como é feita a venda das peças?

A comercialização é realizada por meio do Instagram, com envio pelos Correios para todo o Brasil; em feiras, que não estão sendo muito realizadas devido à pandemia, temos convênios com algumas lojas e pousadas de Parnaíba, e possuímos um espaço físico aqui na Pedra do Sal. Além disso, o museu A Casa Bordada também vende nossos produtos.


Você tem pretensão de despertar a importância da consciência ambiental com o seu trabalho?

Sim, com certeza. Em todas as peças. Por exemplo, ao mostrar para os clientes o bordado com a linha do mar e as tartarugas, a gente fala da história delas e da importância de preservá-las. Temos o intuito de ajudar, de alguma forma, na preservação da nossa casa, do lugar onde vivemos, para que as futuras gerações desfrutem isso. Esta é a mensagem do bordado, de resistência, e mostrando nosso potencial, nosso modo de viver.


As bordadeiras da Pedra do Sal possuem algum incentivo do poder público?

Não. Tudo é bancado por nós mesmos. Desde o material, até a ida a feiras e exposições. Somente o Sebrae nos apoia, mas apenas na parte de capacitação e montagem de stands em feiras.

Como é a idealização das estampas? É realizado um estudo antes?

Temos ainda um pouco de dificuldade na parte gráfica, pois não temos uma aparelhagem completa, e às vezes precisamos fazer uma arte bem trabalhada para algumas peças, mas conseguimos tirar de letra. Entretanto, grande parte dessas peças é feita de forma manual. Cada mulher tem uma função. Eu, por exemplo, fico responsável por fazer todas as artes, a da "almofada céu", "almofada dunas", "piseira", que conta a história do Delta do Parnaíba, dentre outras.


Como está o ritmo de venda das peças?

No começo da pandemia, as vendas caíram um pouco, mas graças a Deus retomaram com força. Temos muitas encomendas para pousadas de Barra Grande, para fora; e os nossos produtos possuem ótima aceitação. As peças com os Guarás e mandalas são as líderes de vendas.

Sobre o volume de produção. As bordadeiras produzem quantas peças por mês?

Depende da complexidade do bordado. Por exemplo, a "almofada dunas", por ser mais complicada, produzimos apenas cinco peças mensais. Já a "almofada céu", produzimos, de 10 a 15, por mês; isso também, dependendo da demanda dos demais produtos. Fazemos cerca de 25 unidades da "almofada na linha do mar" em um mês. Quanto às piseiras, a gente produz cinco por mês, já que são peças grandes.


Evidente que isso pode variar com o tempo, mas fale um pouco sobre os preços dos produtos.

As 'piseiras' variam entre R$ 850 e R$ 1.200. A colcha de cama completa sai por R$ 2.500. O preço das almofadas varia de acordo com o tamanho: 40cm ?- 40cm sai por R$ 75; 50cm ?- 50cm custa R$ 85, e a de 60cm ?- 60cm, R$ 105. O jogo americano para mesa de jantar, com sousplat (suporte de prato) e guardanapos, custa R$ 380. Panos de prato saem por R$ 40 por unidade. Guardanapos individuais, R$ 25. Já os vestidos, a variação de preço é de R$180 a R$ 320, de acordo com o tamanho da pessoa, e se o bordado é mais simples ou mais cheio.

Quem coordena o grupo de bordadeiras?

Eu mesma coordeno-o, que é majoritariamente feminino. Só tem um homem que trabalha conosco.

(Autor: Djalma Batista)



Fonte: Portal O Piauí.com

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