"Eita Saudade do Piauí", diz piauiense que foi embora para estudar e trabalhar e hoje mora no Japão

Saudade das belezas naturais, da família e da culinária

Por Portal O Piauí em 10/11/2021 às 10:21:21

Rita Lândia com o esposo e os filhos no Japão

O Portal O Piauí.com é um produto de comunicação com a cara do Piauí e voltado para públicos variados, abraçando o propósito de dar maior relevo à criatividade dos piauienses.

É baseado numa visão de negócio que traz para a cena tudo que é invisível diante da grande mídia e dos portais de notícias tradicionais.

O portal traz para o centro o compromisso com o Piauí e com os públicos e segmentos ditos invisíveis. Tem embutido vários aspectos relevantes, dentre eles, o amor do piauiense por sua terra, o resgate das tradições culturais do povo, a valorização do que é nosso e das nossas belezas.

Assim, inicia hoje a publicação de uma série de entrevistas com piauienses que foram embora para outros Estados e para o exterior, mas que ainda amam muito o Piauí, sentem muita saudade e vontade de voltar.


VEJA A ENTREVISTA DA RITA LÂNDIA, UMA PIAUIENSE NO JAPÃO

Rita Lândia é piauiense de Anísio de Abreu, no corredor ecológico entre os parques nacionais das Serras da Capivara e das Confusões. Ela foi embora para São Paulo há mais de 20 anos em busca de estudo e trabalho. É formada em Direito e Arquitetura. Atualmente mora no Japão com o marido, que é descendente de japoneses, e os dois filhos. A família tem empresa de consultoria jurídica e academia de artes marciais.

RITA LÂNDIA COM O ESPOSO E OS DOIS FILHOS. O CASAL TEM DUPLA NACIONALIDADE

QUAL SUA MAIOR SAUDADE DO PIAUÍ?

Eita! A saudade que tenho do meu Piauí é pra lá de grande! Fui embora para São Paulo há mais de 20 anos, mas já voltei várias vezes a passeio, então já começo a lembrar das conversas na calçada com as amigas, de toda a família junta, das visitas à casa da vó e das tias.

Sinto saudades de toda a geografia, que é realmente deslumbrante. A natureza do Piauí é linda. As praias, cachoeiras e rios são belíssimos. Na região em que nasci e me criei tem os parques Serra da Capivara e Serra das Confusões, os museus do Homem Americano e da Natureza, que são verdadeiros espetáculos. O Piauí tem, realmente, um aspecto natural muito diferente dos demais Estados brasileiros. A culinária do Piauí é encantadora, muito rica e diversificada. Tenho saudade do carneiro ao molho, do bode assado na brasa, da galinha caipira com arroz, do cuscuz com ovo, do leite de cabra, do milho assado, da pamonha, do umbu, da umbuzada, do feijão verde e paçoquinha.



O QUE LEVOU VOCÊ A MORAR FORA?

O desejo de realizar alguns sonhos foi o que me levou à cidade de São Paulo. Eu sonhava ter melhor acesso aos estudos pois há vinte e poucos anos em minha cidade, Anísio de Abreu, a mais de 500 quilômetros de Teresina, isso estava muito restrito. Agora sei que está fácil, tem escolas boas, universidades estaduais, ensino à distância, mas antes, não era assim. Então, a gente ouvia que em São Paulo as oportunidades de emprego e uma boa estrutura educacional eram mais acessíveis. Cursar o ensino superior e ter um trabalho era o começo de uma vida.



CONSEGUIU REALIZAR O SONHO?

Sim. Cursei Direito e Arquitetura. Trabalhei em minha área por algum tempo em São Paulo. Constitui família. E em 2016, viemos para o Japão. Meu esposo é descendente de japoneses e já tinha morado no Japão. O pai dele chegou ao Brasil com os pais logo após a segunda Guerra Mundial. Eles viram de perto o horror da guerra, principalmente porque o Japão havia sido derrotado.


COMO FORAM AS EXPERIÊNCIAS EM OUTRO ESTADO EM RELAÇÃO A COSTUMES, AMIZADES E FAMÍLIA?

Em relação às experiências fora do meu estado, no início foram complicadas. Em São Paulo, de cara, senti um choque. Era tudo muito diferente do Piauí, principalmente a cultura, a maneira de falar das pessoas, os costumes, o sotaque. Na escola, a gente se sentia um pouco excluída. Ouvia comentários do tipo: "Nordestina... olha o sotaque dela! Veio buscar dinheiro para depois ir embora".

Isso foi há mais de 20 anos, e agora vejo que sofria o famoso bullying. As piadinhas ainda existem em relação aos nordestinos, mas as coisas estão mais bem definidas e as pessoas, mais esclarecidas. Naquela época, eu não ligava muito para o que os outros diziam. Não me importava. Só pensava que precisava estudar. Apesar de tudo, São Paulo é uma terra muita boa, oferece muitas oportunidades. Encontrei pessoas boas, acolhedoras e me deram muitas dicas importantes que me ajudam a viver melhor em qualquer lugar.



PRETENDE VOLTAR A MORAR NO PIAUÍ?

O Piauí é a minha paixão! Mas, depois que constitui família e saímos de São Paulo para morar no Japão, o Piauí vai continuar sendo minha paixão, mas não tenho planos de voltar a morar na minha terra. Quero matar a saudade, indo a passeio para rever a família, amigos e visitar os parques e curtir todas as belezas. Pela internet, consigo conversar com meus familiares e acompanhar algumas coisas que estão acontecendo no Piauí.

Levando em conta a estrutura que temos no Japão, como de empregos, segurança, saúde e educação, não vejo uma possibilidade de retorno ao Brasil. A estrutura aqui é muito completa no que diz respeito à educação, saúde, segurança, oportunidades de trabalho.

Estamos programando uma visita ao Brasil e ao Piauí, em breve. Quero mostrar para meus dois filhos a roda de São Gonçalo, que é uma dança tradicional da minha terra. Não sei se vou conseguir porque esta é uma dança e uma reza da época dos meus pais, tios e avós, e muitos já faleceram e levaram consigo este costume. Quero que eles conheçam o Museu do Homem Americano, a Serra da Capivara, o Museu da Natureza, as praias do Piauí, a culinária, o artesanato, acho importante para que minha família entenda mais sobre nossa cultura e que conheçam mais as nossas origens.


COM O QUE NÃO SE ACOSTUMOU AINDA NO JAPÃO?

Não consegui ainda me acostumar com o Yamato, que é o idioma japonês. São três alfabetos: Hiragana, Katacana e Kandis. Consigo ler e escrever sobre coisas básicas. Estou estudando a língua e já consigo me comunicar com as pessoas. Entendo sobre o que estão conversando nas ruas e me viro bem nas compras. Quando sinto alguma dificuldade em relação à língua também consigo me comunicar em inglês.



QUAL A DICA PARA QUEM VAI PARA O JAPÃO?

Existem tradições e costumes que devem ser conhecidos antes de se viajar para o Japão. O país tem uma das sociedades mais avançadas do mundo, mas também uma das mais antigas e conservadores. Tem uma história construída ao longo de milênios e esse é o motivo pelo qual diversos elementos culturais são raros para quem habita nos países ocidentais.

O que mais me choca aqui é o que vou detalhar. No Japão, para cada situação existe uma forma de tratamento. Isso varia de acordo com a ocasião e, principalmente, com a classe hierárquica de uma pessoa. Por exemplo, o japonês acrescenta um sufixo aos sobrenomes, que mudam de acordo com a posição social, com a relação e com a idade da pessoa. Além disso, não podemos negar, existe muito preconceito em relação aos estrangeiros, como ocorre em outros países.



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